Pastor que ajudava vítimas de tornado perde a vida durante acidente na BR-277

O que deveria ser apenas mais uma viagem de rotina na missão de ajudar famílias destruídas pelos tornados terminou em uma tragédia que ninguém esperava — e que deixou um vazio impossível de preencher para centenas de pessoas que, até ontem, chamavam um único homem de líder, pastor, amigo, porto seguro.

O pastor adventista João Nicolau Gonçalves, 45 anos, natural de Joinville (SC), morreu de forma abrupta e brutal na tarde de sexta-feira (14), em um acidente violento na BR-277, em Palmeira (PR). A colisão aconteceu por volta das 11h50, no km 197 da rodovia, e escancarou a fragilidade cruel da vida: alguém que dedicava dias e noites a salvar vítimas de tragédias naturais acabou se tornando vítima de outra tragédia, dessa vez no asfalto.

João viajava rumo a Curitiba, onde buscaria novos voluntários para reforçar uma força-tarefa em prol das famílias devastadas pelos tornados em Rio Bonito de Iguaçu. Enquanto muitos se escondiam da destruição, ele corria para dentro dela — e levou com ele uma rede de mais de 80 voluntários, organizados pela ADRA e pela ASA, instituições ligadas à Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Mas antes que ele pudesse recrutar mais ajuda, a brutalidade do trânsito interrompeu a missão. O impacto do acidente deixou outras três pessoas feridas — duas em estado gravíssimo. A rodovia precisou ser completamente bloqueada e só foi parcialmente liberada cerca de duas horas depois. A cena, segundo quem passou pelo local, era de caos: sirenes, metal retorcido, gritos, e uma vida apagada no instante em que tantos dependiam dela.

A morte chocou não apenas os amigos, mas toda a comunidade religiosa que acompanhava o trabalho humanitário do pastor. Era ele quem acalmava, quem organizava, quem sustentava psicologicamente famílias que tinham perdido tudo — e agora, ironicamente, é a família dele que terá que aprender a sobreviver ao irrecuperável.

João deixou a esposa, Mara, e as filhas Micheli e Nicole, que agora precisam enfrentar o tipo de dor que o pastor sempre ajudou a curar em outros lares. Nas redes sociais, membros da igreja e voluntários expressaram desespero, incredulidade e indignação diante da notícia. Não foram poucos os que afirmaram não entender como alguém tão dedicado ao bem pôde ter um fim tão abrupto.

O velório está marcado para este sábado (15), às 15h, na Igreja Adventista do Sétimo Dia do Saguaçú, em Joinville. Mesmo devastados, os voluntários anunciaram que vão continuar o trabalho iniciado por João. “Não vamos deixar o legado dele morrer”, disseram em nota — uma promessa de continuidade feita com a voz embargada de quem sabe que jamais haverá substituto.

No fim, a morte do pastor levanta uma reflexão incômoda: às vezes, a vida recompensa os heróis com aplausos, mas outras vezes — como agora — com um silêncio pesado, chocante e inaceitável. E cabe aos que ficam decidir se esse silêncio será o fim ou o combustível para continuar.

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