Há histórias que tocam pela forma como o amor e o respeito continuam mesmo após a partida. Foi exatamente isso que aconteceu com a professora Elisabete Maria Miranda, que decidiu cumprir o último desejo de seu marido, Ersio Miranda, deixando um exemplo de generosidade e consciência social que inspirou muitas pessoas.
Ersio, de 72 anos, era natural do Paraná e teve uma carreira sólida na área do Direito. Ainda em vida, tomou uma decisão que surpreendeu até mesmo familiares e amigos: doar seu corpo à Universidade Federal do Paraná (UFPR) para ser utilizado em ensino e pesquisa científica.
A ideia surgiu após ele assistir a uma aula de medicina legal, momento em que percebeu o quanto esse gesto pode contribuir para a formação de futuros profissionais da saúde. Em 2020, ele formalizou sua vontade em cartório, garantindo que o desejo fosse respeitado quando chegasse a hora.
Mesmo ao enfrentar o diagnóstico de câncer de próstata em estágio avançado, que mais tarde se espalhou para os ossos, Ersio manteve a serenidade. Durante o tratamento, reafirmava à esposa que queria continuar ajudando, mesmo após a partida. Para ele, doar o corpo era uma forma de ser útil até o fim e deixar um legado de aprendizado.
Em junho deste ano, dois meses após sua morte, Elisabete cumpriu a promessa feita em vida. Segundo ela, aquele momento representou uma “dupla viagem”: a da alma do marido, que acreditava seguir para o céu, e a do corpo, que agora serviria à ciência.
A UFPR foi responsável pelo traslado do corpo de Mogi das Cruzes (SP) até Curitiba (PR). Elisabete conta que, apesar da dor da despedida, sentiu uma profunda paz por honrar a vontade de quem tanto amou. “Foi difícil voltar para casa sozinha, mas encontrei consolo em saber que ele partiu ajudando outras pessoas”, relatou emocionada.
Hoje, a professora compartilha a experiência com outras famílias, incentivando-as a refletirem sobre a importância da doação de corpos para pesquisa. Segundo ela, mais do que um ato de amor, é uma contribuição consciente que pode inspirar, educar e salvar vidas no futuro.
O gesto de Ersio mostra que o amor pode ir além do tempo e do espaço. Sua atitude transformou a dor da perda em um símbolo de empatia e esperança — lembrando a todos que, quando a despedida é guiada pelo amor, ela se transforma em um novo começo para muitos outros.