O domingo que deveria celebrar superação, esporte e resistência em João Pessoa terminou marcado por um cenário de desespero e indignação. Um empresário, ainda não identificado oficialmente, morreu após passar mal durante a Meia Maratona realizada na manhã do dia 16. O que mais chocou quem estava presente não foi apenas o colapso súbito do corredor, mas o fato de que a prova continuou acontecendo enquanto ele lutava pela vida, cercado por curiosos, socorristas improvisados e câmeras de celulares.
Um vídeo amplamente compartilhado nas redes sociais registra o momento em que o atleta cai no chão, a poucos metros do trecho final da prova. Outros corredores e voluntários interrompem a corrida para tentar ajudá-lo, iniciando compressões torácicas na tentativa desesperada de reanimá-lo. Enquanto isso, inúmeros participantes continuavam passando ao lado, cruzando a linha de chegada, recebendo medalhas — como se duas realidades paralelas se desenrolassem no mesmo palco: uma celebração de vitória e a agonia da morte, coexistindo a poucos metros de distância.
Testemunhas afirmaram que houve demora no atendimento médico especializado. Segundo relatos, foram os próprios atletas que iniciaram os primeiros socorros, antes que a equipe oficial chegasse. A indignação aumentou devido ao tempo prolongado de reanimação — cerca de 30 minutos, de acordo com quem presenciou o episódio. A angústia dos presentes crescia a cada segundo: compressões, respirações, pedidos desesperados por ajuda… até o momento em que não havia mais o que fazer. O empresário morreu ali mesmo, diante da multidão, ainda vestindo o número de peito da competição que jamais completaria.
A crítica mais contundente parte de quem estava no local: mesmo com a cena dramática, a prova continuou em andamento. Não houve suspensão temporária, nem mudança de trajeto. A linha de chegada permaneceu ativa, o som da comemoração não cessou e o fluxo de atletas seguiu normalmente. Corredores relatam que era impossível ignorar a cena, descrevendo o episódio como “o momento mais cruel e mais frio já visto em um evento esportivo da cidade”.
Até o fechamento desta reportagem, a organização da Meia Maratona não havia se pronunciado oficialmente sobre o caso, nem explicado os protocolos de emergência aplicados durante o evento. Nas redes sociais, cresce a pressão por respostas — tanto da organização quanto do poder público — sobre a estrutura médica oferecida e a decisão de não interromper a prova.
O episódio levanta um debate inevitável: até onde o esporte e os eventos de grande porte estão preparados para proteger vidas? Em competições que vendem a ideia de superação, preparação física e resistência, especialistas lembram que esforço extremo sem monitoramento adequado pode se transformar em tragédia, especialmente em provas longas e sob forte calor.
Amigos, familiares e corredores que testemunharam a morte esperam que o caso não seja apenas mais um registro estatístico de mal súbito em eventos esportivos. Para muitos, fica a impressão de que aquela corrida já tinha um vencedor antes mesmo da largada — e ele foi o risco.