A corrida desesperada até o hospital parecia, à primeira vista, um ato de urgência e desespero. O padrasto de Ana Alice, uma menina de apenas 11 anos, chegou aos médicos afirmando que tinha encontrado a enteada desacordada dentro de casa. Segundo ele, a criança estava com um cordão enroscado no pescoço, indicando um possível enforcamento. Mas, dentro da unidade de saúde, a história começou a ruir — detalhe por detalhe.
Os profissionais médicos tentaram reanimar Ana Alice, lutando contra o tempo e contra as marcas que o corpo frágil da menina carregava. Minutos que pareceram uma eternidade foram investidos para tentar salvá-la. Porém, a luta terminou em silêncio: Ana Alice não resistiu.
Foi nesse momento que surgiram as primeiras perguntas — e nenhuma delas condizia com o relato do padrasto.
A equipe médica percebeu indícios claros de violência sexual, sinais que apontavam para um crime muito mais grave do que um enforcamento acidental. A partir dessa constatação, a polícia foi acionada imediatamente. A morte deixou de ser tratada como tragédia doméstica e passou a ser investigada como homicídio acompanhado de abuso sexual.
Todos os parentes da vítima foram conduzidos à delegacia para prestar depoimento. As versões, no entanto, não se alinhavam. Alguns detalhes levantavam dúvida, outros apontavam contradições. E, conforme a investigação avançava, uma pessoa passou a surgir no centro das suspeitas: o padrasto, Douglas — o mesmo que horas antes se apresentava como desesperado socorrista.
Antes de ser detido, Douglas concedeu entrevista ao programa Balanço Geral, negando todas as acusações. Dizia estar sendo injustamente responsabilizado e repetia, de forma enfática, que apenas havia tentado salvar a menina. Mas, para a Polícia Civil, as circunstâncias, os laudos médicos preliminares e os depoimentos não permitiam ignorar o cenário apontado pelos exames. O magistrado determinou prisão temporária, medida que busca garantir que o padrasto não interfira no andamento investigativo enquanto o caso segue em apuração.
A morte de Ana Alice escancarou um padrão devastador: para muitas crianças no Brasil, o maior perigo não está na rua — está dentro de casa. O local que deveria oferecer segurança se transforma em palco de medo, silêncio e violência. Os números de abuso infantil no país são altos, e a maioria dos agressores está no núcleo familiar ou próximo a ele.
Enquanto a Justiça tenta desvendar com precisão o que aconteceu naquela noite, uma verdade permanece inegável: Ana Alice não teve chance de pedir ajuda. Uma menina de 11 anos, com toda uma vida pela frente, saiu de casa nos braços do homem que dizia tê-la encontrado desacordada — e nunca mais voltou.