Pai reconhece corpo de filho no RJ e desabafa: “Sou feirante, o que eu tinha pra oferecer pra ele era isso. Ele não quis”

Uma história comovente marcou os desdobramentos da megaoperação policial no Rio de Janeiro, a mais letal da história do estado. Entre as mais de cento e vinte vítimas confirmadas, está Hércules Célio Lima, de 23 anos, reconhecido pelo próprio pai, o feirante Cláudio Lima, que há dias vivia uma angústia sem fim em busca do filho desaparecido.

Depois de mais de 24 horas de procura ininterrupta, Cláudio teve a confirmação da morte de Hércules de uma maneira que nenhum pai deveria enfrentar: por meio de um vídeo que circulava nas redes sociais. Em entrevista, o feirante contou que estava em uma área de mata, ajudando nas buscas, quando decidiu abrir um dos vídeos enviados por amigos. Bastou um olhar para que ele reconhecesse o filho entre os corpos que apareciam nas imagens.

“Foi como se o chão tivesse sumido”, relatou, com a voz embargada. O pai contou que, por cinco anos, tentou afastar Hércules do mundo do crime. Ofereceu trabalho, apoio e conselhos, mas o jovem acabou trilhando um caminho diferente daquele que ele sonhava.
“Eu sou feirante. O que eu tinha pra oferecer pra ele era isso: um lugar na barraca, um trabalho digno. Ele não quis. Já era maior, fazia as próprias escolhas. Mas eu nunca deixei de tentar”, desabafou Cláudio.

O caso de Hércules expõe a dor de centenas de famílias atingidas pela “Operação Contenção”, realizada na última terça-feira (28) nas comunidades da Penha e do Alemão. A ação mobilizou cerca de 2,5 mil policiais e resultou em mais de 120 mortes, sendo 115 suspeitos e seis agentes de segurança, segundo dados oficiais.
Enquanto o governo do estado defende a operação como necessária para conter a expansão do tráfico, defensores de direitos humanos e moradores denunciam o alto custo humano e pedem investigação independente sobre as circunstâncias das mortes.

Após reconhecer o filho pelo vídeo, Cláudio foi ao Instituto Médico Legal (IML) para os trâmites de liberação. O corpo de Hércules foi entregue à família no fim da quinta-feira, encerrando uma busca marcada pela angústia e pela esperança que, infelizmente, não se confirmou.

Exausto e abalado, o pai agora tenta encontrar forças para enfrentar o luto. Ele resume sua dor em poucas palavras, que emocionaram todos que ouviram seu relato:
“Fiz o que pude. Falei, aconselhei, abracei. Só queria que ele tivesse escolhido viver diferente. Mas era meu filho, e eu o amei até o fim.”

A história de Cláudio Lima e de seu filho se soma a tantas outras que revelam o lado mais doloroso das operações policiais de grande escala — onde, além das estatísticas, existem pais, mães e famílias tentando seguir em frente em meio à perda e à saudade.

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