A prisão de um motorista de aplicativo na Bahia trouxe novos desdobramentos a um caso que, nos últimos dias, mobilizou a opinião pública e gerou intensos debates sobre segurança, justiça e proteção de pessoas em situação de vulnerabilidade. A vítima é Rhianna Alves, jovem trans de 18 anos, cuja morte ocorreu no último fim de semana no município de Luís Eduardo Magalhães, no oeste do estado.
O episódio ganhou grande repercussão após vir à tona que o suspeito, Sérgio Henrique Lima dos Santos, de 19 anos, não apenas confessou envolvimento na morte, como também conduziu o corpo da jovem até a delegacia. Apesar disso, ele foi inicialmente liberado após prestar depoimento, o que causou surpresa e indignação em parte da sociedade.
A Polícia Civil esclareceu posteriormente que, naquele primeiro momento, o suspeito não foi preso em flagrante, pois se apresentou de forma voluntária. De acordo com a legislação, essa circunstância impediu a prisão imediata. Ainda assim, as investigações seguiram em andamento desde o início.
Com o avanço das apurações e a coleta de novos elementos, a polícia entendeu que havia fundamentos suficientes para solicitar a prisão preventiva do investigado. A medida foi autorizada pela Justiça, resultando na prisão de Sérgio poucos dias após o ocorrido. Ele foi formalmente indiciado por feminicídio, e agora permanece à disposição do Judiciário.
Em pronunciamento, o delegado responsável pelo caso, Leonardo Mendes Júnior, afirmou que a decisão de não realizar a prisão imediata teve como objetivo garantir a solidez do processo investigativo. Segundo ele, a prioridade foi reunir provas consistentes para assegurar que o acusado fosse retirado do convívio social de forma legal e fundamentada.
“O trabalho policial buscou complementar os fatos inicialmente apresentados, fortalecendo o procedimento para que a medida judicial fosse devidamente respaldada”, explicou o delegado.
Durante o depoimento inicial, Sérgio alegou ter agido em legítima defesa, afirmando que havia se encontrado com Rhianna e que os dois teriam se desentendido dentro do veículo. Segundo sua versão, o conflito evoluiu para uma luta corporal, culminando em uma ação que teria provocado a morte da jovem de forma não intencional.
No entanto, de acordo com a Polícia Civil, os elementos reunidos ao longo da investigação indicaram inconsistências nessa narrativa. Diante disso, a tese de legítima defesa foi descartada pelos investigadores, que optaram pelo indiciamento por feminicídio, considerando o contexto e as circunstâncias apuradas.
A morte de Rhianna Alves gerou grande comoção, especialmente nas redes sociais, onde familiares, amigos e ativistas pediram justiça e mais atenção à proteção de pessoas trans no país. O caso também reacendeu discussões sobre os procedimentos legais adotados em situações de apresentação espontânea à polícia e sobre a importância de uma comunicação clara entre autoridades e sociedade.
Agora, o processo segue para as próximas etapas judiciais. Caberá ao Ministério Público analisar o inquérito e decidir pela apresentação de denúncia, solicitação de novas diligências ou outras medidas cabíveis. Enquanto isso, o caso permanece como um símbolo da necessidade de investigação cuidadosa, respeito às vítimas e transparência nas ações do sistema de justiça.