O Rio de Janeiro viveu um dos dias mais tristes e tensos de sua história recente. Na manhã desta quarta-feira, 29 de outubro, moradores da Penha e do Complexo do Alemão acordaram em meio ao silêncio e à perplexidade deixados por uma megaoperação policial que transformou a madrugada em um cenário de guerra.
A ação, considerada a mais letal já registrada no estado, tinha como objetivo atingir integrantes do Comando Vermelho, mas o resultado foi um rastro de dor e desespero. Ruas bloqueadas, comércio fechado e escolas sem aula marcaram o amanhecer de comunidades que, mais uma vez, se viram entre o medo e a incerteza.
De acordo com o governo do Rio, a operação deixou 64 mortos oficialmente confirmados, entre eles quatro policiais, dois civis e dois militares, além de mais de 80 prisões. No entanto, relatos de moradores e líderes comunitários apontam que o número real pode ser bem maior.
Durante a madrugada, dezenas de moradores se uniram em um ato de solidariedade e desespero, carregando corpos das áreas de mata — especialmente da região conhecida como Vacaria, na Serra da Misericórdia — até a Praça São Lucas, na Penha. O objetivo era facilitar a identificação das vítimas e dar visibilidade à gravidade da situação.
“Em 36 anos de favela, eu nunca vi nada parecido”, relatou o comunicador e ativista Raull Santiago, emocionado ao descrever as cenas.
Vídeos gravados por moradores mostram corpos enfileirados sobre lonas, caminhonetes improvisadas transportando vítimas e helicópteros ainda sobrevoando a região, mesmo após o fim do confronto. O clima era de luto e incredulidade.
O Instituto Médico-Legal (IML), em conjunto com o Detran do Rio, montou uma força-tarefa para o reconhecimento das vítimas. Enquanto isso, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União solicitaram explicações ao governo estadual sobre os métodos empregados na operação, batizada de “Operação Contenção”.
Foram apreendidos 93 fuzis e uma grande quantidade de drogas. Apesar do resultado operacional, a ação reacendeu o debate sobre a violência nas comunidades cariocas e a urgência de estratégias que priorizem a vida e a segurança da população.
Nesta quarta, o Rio amanheceu em silêncio — um silêncio que ecoa o peso da dor de famílias inteiras e a esperança de que um dia a paz seja mais forte que o som dos helicópteros e o eco dos tiros.