O velório de Alice Martins Alves, jovem trans de 27 anos, realizado nesta segunda-feira (10/11), em Belo Horizonte (MG), foi marcado por muita comoção e revolta. Alice morreu após quase 20 dias internada, lutando pela vida depois de ter sido vítima de um ataque violento no final de outubro.
O crime aconteceu na madrugada do dia 23 de outubro, quando Alice deixava uma festa no bairro Savassi, região nobre da capital mineira. De acordo com as investigações, ela foi atacada de forma brutal por um homem, e outros dois suspeitos também teriam participado da agressão. Câmeras de segurança da Avenida Getúlio Vargas registraram parte do ocorrido, e as imagens auxiliam a Polícia Civil, que conduz o caso por meio do Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios (Neif).
Mesmo ferida, Alice conseguiu voltar para casa, mas o estado de saúde se agravou rapidamente. A família acionou o socorro e registrou um boletim de ocorrência, denunciando o ataque. Desde então, a jovem permaneceu internada em um hospital da região, mas infelizmente não resistiu aos ferimentos.
Durante o velório, familiares e amigos prestaram homenagens e relembraram a alegria e a força de Alice. O momento mais emocionante, porém, foi o desabafo do pai, que falou com a imprensa e expressou toda a dor e indignação diante da perda da filha.
Visivelmente abalado, ele contou que Alice vinha enfrentando momentos de medo e insegurança nas últimas semanas, receando sair de casa devido à intolerância e à violência. Mesmo assim, havia decidido comparecer à festa a convite de amigos — uma das poucas saídas que fazia ultimamente.
“Será que uma trans não tem o direito de viver em paz?”, questionou o pai, entre lágrimas. “Eu perdi uma grande parceira, uma amiga. Parei de sair de casa para ficar com ela, e agora ela se foi.”
O pai também revelou que o processo de aceitação da identidade da filha foi um caminho de aprendizado e amor, e que Alice se tornou seu maior orgulho.
A família pede justiça e respostas, enquanto movimentos sociais e coletivos LGBTQIA+ de Minas Gerais cobram a celeridade nas investigações. O caso tem gerado ampla repercussão nas redes sociais, reacendendo o debate sobre a violência contra pessoas trans no Brasil — um dos países com os maiores índices desse tipo de crime no mundo.
“Alice era luz, alegria e coragem. Ela só queria viver em paz, como qualquer um de nós”, declarou uma amiga próxima durante a despedida.